Foi-se o tempo em que Amélia (a da imortal composição de Mário Lago e Ataulfo Alves) era sinônimo de mulher de verdade. Imagine só, em plena gestão Fome Zero, alguém achar bonito não ter o que comer... A Mulher de Verdade deste novo milênio (isso mesmo, com "M" e "V" maiúsculos), em vez de compartilhar a miséria, vai à luta; e põe na mesa a comida dos filhos - e por que não? - do amado companheiro, se necessário.
Conhece seus direitos. Casa-se por opção, não mais por imposição. Se não dá certo, tenta mais uma, duas, dez vezes, até encontrar a cara metade. Dá-se o devido valor, conhece o seu lugar. Que não é atrás nem adiante do seu homem, mas ombro a ombro, lado a lado.
Dela muito se exige. Que seja boa mãe, amante caliente, profissional de primeira, competindo, inclusive, no hostil mundo dos "homens de negócios", em total paridade.
Como mãe, é preciso que a Mulher de Verdade se conscientize de que cabe a ela a responsabilidade de perpetuar a força e a garra femininas através de suas filhas. Portanto, que possa servir de exemplo, contabilizando e compartilhando erros e acertos, criando, assim, uma nova e fortalecida geração de Mulheres de Verdade.
É papel de toda mãe falar com suas filhas sobre o prazer de ser mulher; e sobre experiências como o rito de passagem que representa a tão esperada primeira vez. E perpetuar a sagrada intuição, vocação feminina, sem colocar seu destino, às cegas, nas mãos de outrem, por mais poderosa que tal criatura possa parecer.
Como amante e companheira, as cobranças vêm-se multiplicando nas últimas décadas na exata proporção em que nos acenam com a conquista do prazer. Lembrem-se, meninas: orgasmo é direito adquirido, não dever a ser cumprido. Ante insistentes apelos da mídia para que o alcancemos - por vezes, mais complicam que explicam - criam-nos mais uma obrigação em vez do agradável e merecido gozo.
E já que tocamos no assunto, cabe destacar que toda mulher tem o direito de broxar de vez em quando. Por TPM; porque a mãe está doente; porque as crianças estão perto, porque as crianças estão longe. Porque comeu muito; porque bebeu pouco. Por excesso de trabalho, porque o sono está atrasado. Porque é grande demais, pequeno demais. Porque sim e ponto final. #P#Por mais que a mídia insista em desvendar e nos conduzir através da rota do prazer, fique esperta: você não precisa se fantasiar de odalisca, de coelhinha nem de porquinha-da-índia. Até porque estudos comprovam que o tesão masculino está diretamente associado à nudez feminina... E tem mais: já viu revista masculina ensinar a "eles" o caminho das pedras para se tornarem charmosos como Rodrigo Santoro, sedutores como Thiago Lacerda ou românticos e sensíveis como Chico Buarque?
No âmbito profissional, há que ser Mulher de Verdade para encarar a competitividade masculina... e a feminina! Sim, porque nós temos a força. Depois de conquistarmos o direito de usar calças compridas e cabelos curtos; de ocupar altos postos nas forças armadas; de praticar os esportes mais radicais e decidir o que fazer com nossos corpos e mentes, depois de todas estas conquistas já não precisamos guerrear nem ser temidas: precisamos de treino, de tato, de muito amor.
Amor à nossa própria feminilidade, às regras da Natureza e respeito ao nosso próprio poder. Caminhando juntos, homens e mulheres, conseguiremos cumprir nosso papel, conscientes que somos do importante lugar que ocupamos na cadeia ecológica da Mãe-Terra e no mapa cósmico do Universo.
Aprendi com minha mãe que a mulher é livre e feliz quando faz o que quer e ainda lhe sobra tempo. É bom mesmo que nos sobre tempo e espaço para desfrutar aqueles fricotes femininos que fazem bem à nossa alma. Um toque de feng shui na decoração, uma comprinha extra, uma pequena peruagem... Aquelas coisas de mulher, que homem nenhum entenderá - a menos que renasça mulher.
E que possamos descobrir o caminho da felicidade - quem sabe com toques do budismo tibetano - desvendando e evitando as sabotagens autoimpostas para seguirmos a trilha reta e direta que nos conduz à infinita Luz e Sabedoria.
Mulher de Verdade - ufa - que missão! Confiada a nós, mulheres extraordinariamente comuns, que não dispomos do aparato das deusas - personal isto, nem aquilo - mas que conseguimos ser fortes, belas, espertas, inteligentes às custas de nossos próprios recursos. Cabe a você valorizá-los, valorizar-se. Para tanto, atenção à vida, atenção redobrada a si mesma. Orgulhe-se de pôr assim, simplesmente uma Mulher de Verdade.