A música New Age é hoje em todo o mundo uma das linhas do pensamento humano que reúne o que há de mais avançado, autêntico e libertário sobre temas como espiritualidade, terapias, ecologia, filosofia, vida alternativa, saúde, artes e, principalmente, a música. Mas muitas das ideias e percepções que hoje são abraçadas pela New Age, como a da música e seus poderes de relaxamento e harmonização das energias corporais que circulam pelo nosso organismo, pela nossa parte psicológica ou do espírito, transcendem o próprio termo New Age e sua colocação histórica.
Década de 60. EUA, mais precisamente Estado da Califórnia. O mundo se encontrava em mais uma de suas crises na cultura e na sociedade ocidental; crise essa forçada pela insatisfação dos jovens e corajosos hippies da época, pelo pensamento oriental que invadia o Ocidente pelas vias da então emergente globalização através dos meios de comunicação e informação, e, também, pelos gurus que partiam do Oriente para o Ocidente, trazendo uma nova visão para a vida do homem neste mundo, muito diferente e distante daquela até então preconizada e ensinada pela religião e pelo sistema americano de consumismo como forma de sucesso e respeito.
Todo esse movimento gerou uma grande abertura no comportamento e no pensamento humano em termos de espiritualidade, psicologia, misticismo, esoterismo, ciência de música. Embora o termo New Age só viesse a ser criado em 1970, os primeiros músicos ligados a essa concepção musical, dez anos antes, já defendiam métodos e conceitos que são usados até hoje. Propunham uma nova tomada de consciência que levasse à consolidação das idéias humanitárias e ecológicas e, consequentemente, ao início de transformações pessoais e sociais que pudessem criar um presente e um futuro melhores para o planeta e para cada pessoa.
O movimento New Age não propõe que nos transformemos em utópicos anjos de pureza com boas, porém falsas, intenções. Pelo contrário, propõe-nos que limpemos de nossas cabeças toda fantasia e divisão que têm feito do homem um gerador de conflitos. New Age não é uma filosofia de vida em si, com métodos e fórmulas a ser seguidas. Não é absolutamente uma religião nem um movimento organizado. Não está ligada a um evento histórico em especial. Ela não tem líderes nem mestres, nem tem sede. Nasceu com o conceito dos questionamentos dos padrões psicológicos, morais, religiosos, espirituais e sociais e, principalmente, do nosso relacionamento conosco.
Energias corporais e ambientais
Na New Age Music os quatro elementos fundamentais da música - melodia, harmonia, timbres e textura dos sons -, entre outros elementos, como ritmo e performance, receberam tratamentos diferentes e específicos para atender às necessidades de um gênero reflexivo, calmo e meditativo. Ela se caracteriza pelo uso de estruturas harmônicas e pelo emprego de sequências e construções que estimulem a sensibilidade e a quietude, evitando assim o jogo de tensão e revolução da harmonia tradicional da música ocidental, presente no jazz, no rock, no clássico, no pop etc. As melodias são elaboradas de forma simples e muitas vezes dentro de frases repetitivas de arranjos instrumentais. O que o artista New Age busca é a construção de climas etéreos, no sentido de que as melodias não são usadas aqui como fator de "distração". Sob esse aspecto, a New Age se mostra muito influenciada pela música minimalista, que busca o máximo de beleza com um mínimo de notas musicais - que, por sua vez, é uma das formas musicais modernas que mais conseguiu mexer com as energias ambientais e corporais, como fazem os mantras indianos. A música New Age não favorece nenhum tipo de virtuosismo, embora possa contê-lo, e seus intérpretes não são vistos, nem isto lhes é cobrado, como donos de técnicas elaboradas e de difícil execução de seus instrumentos. Mas é justo citar que muitos deles sejam realmente grandes instrumentistas: Paul Horn chegou a tocar e a gravar com Duke Ellington e Miles Davis; Nancy Rumbel é ex-oboísta da Sinfônica de Los Angeles, no qual o conhecido maestro e músico New Age, Shardad Rohani, atua.
Os artistas New Age de hoje são considerados excelentes intérpretes, inovadores na técnica de seus instrumentos, quase todos com formação erudita. Ao abandonar o virtuosismo, compositores desse movimento têm procurado mostrar uma grande preocupação em não entender o ouvinte como mero espectador da música, mas, acima de tudo, como um participante ativo no processo e no momento da audição, como um receptor aberto e de mente vazia. A disposição do ouvinte de interagir com a música é vista aqui como um fator importante (embora não fundamental) para atingir os objetivos propostos pela New Age. Só assim o ouvinte poderá ser capaz de absorver o instante - a experiência única e não repetida.
Talvez esse seja um dos maiores poderes que a música carrega em si, o de esvaziar a nossa mente. Muitas pessoas já tiveram essa experiência - ou Satori, que, traduzido da linguagem Zen, significa "ter uma rápida visão da verdade, do estado de iluminação, sem a presença do ego".
Meditação, Visualização, Relaxamento
Ao longo de nossa história encontramos inúmeros relatos, em culturas diversas do Ocidente e do Oriente, de pessoas que puderam ter contato com esse estado atemporal de iluminação através dos sons e da música - ideia reconhecida e empregada também por músicos New Age já a partir das primeiras gravações.
Outros itens, como textura do som e o timbre de instrumentos sintetizados ou acústicos, porém sempre de tons harmoniosos, foram importantes para a criação de climas sonoros, de um continuum de espaço e tempo que transmitisse tranquilidade, bem-estar, imobilidade ou clima, permitindo assim a construção de um terreno seguro para o exercício mental de meditação, visualização e relaxamento. Atitudes individuais simples de relaxamento têm sido consideradas suficientes, dentro de certos limites, para manter uma pessoa saudável.
É o que a New Age procura estimular ao criar um espaço musical em que seus ouvintes encontrem seu próprio ritmo, sua própria música, sua vibração, harmonia, saúde e bem-estar. Entender isso é entender o porquê da própria New Age e por que algumas de suas características de estilo a fazem ser rotulada como "não música" e como um estilo estéril. Um erro baseado, certamente, na falta de conhecimento dos objetivos e intenções dos principais músicos New Age. Eles buscam, acima de tudo, melhor qualidade de vida para si e para seus ouvintes.
Em relação à textura do som em arranjos musicais New Age, muitos artistas procuravam usar inicialmente a ressonância de tom dos timbres de instrumentos acústicos e eletroacústicos para montar climas sonoros etéreos, o que ficou evidente principalmente em gravações como Inside the Taj Mahal, de Paul Horn. Horn revolucionou a flauta ao produzir esse álbum e outros trabalhos da série Inside, usando a reverberação e a acústica natural dos locais onde gravava para incorporar novas tonalidades e possibilidades de performance de seu instrumento.
Já a partir das primeiras gravações New Age essa percepção da primazia do espaço psicacústico, do espaço sonoro transformado em espaço de consciência, tornou-se uma das características marcantes do estilo, e mais ainda quando a música eletrônica tomou a New Age dos anos 70, a ponto de ela ter sido chamada então de "Música Espacial", numa referência tanto a sua textura de som quanto aos estados que procurava transmitir aos seus ouvintes. Por esse motivo, para músicos New Age, esse realce e colorido dados ao som não têm sido vistos como um simples efeito especial, mas como uma parte integrante e importante da própria música; uma questão de estética, um aspecto fundamental de estilo ligado aos usos mais tradicionais do som em culturas de todos os cantos do mundo.
Autoconhecimento e equilíbrio
A música sempre teve grande importância no autoconhecimento. Desde a mais remota Antiguidade, a música sempre esteve lado a lado com o homem na sua escalada psicológica ou espiritual. A música é uma forma profunda de expressão das energias humanas, e sempre foi considerada um importante método de se alcançar estados de paz, harmonia e iluminação.
Os indianos não separam a música da devoção. Para eles a música é coisa extremamente religiosa. Há muito eles perceberam que podemos aquietar o pensamento pronunciando uma fase mântrica, e mais, se essas frases fossem pronunciadas de forma cantada, elas poderiam provocar maior efeito no organismo, como é o caso do OM. O som do OM provoca uma vibração que mexe com os órgãos e até com estruturas celulares do corpo humano. A emissão contínua do OM, por exemplo, provoca uma vibração corporal capaz de estimular nossos órgãos internos, ativando seu funcionamento, como uma ginástica interior.
Os pontos básicos de energia do nosso corpo, ou os chakras, são muito influenciados pelo tipo de música que uma pessoa esteja ouvindo. Uma música com ritmos fortes de batida ou percussão do estilo World Music vai estimular um padrão de pensamento em nós que atua sobre as energias do chakra básico, que é um tipo de energia controladora e equilibradora das coisas mais materiais. Já se a pessoa ouvir uma música clássica suave, Ethereal, New Age Spiritual, que a leve a se ligar com sentimentos elevados, com padrões de pensamentos religiosos, ela vai estimular os chakras superiores, mais transcendentes.
Ao que chamamos chakras "básico" e "superiores" não emitimos nenhum juízo de qualidade, já que todos os sete chakras são igualmente importantes canais de comunicação energética e espiritual para o ser humano. Segundo médicos, músicos e terapeutas envolvidos com experiências não oficiais em hospitais da Califórnia, EUA, a música New Age pode ajudar a aprofundar e a regularizar a respiração, melhorar a digestão, baixar a pressão sanguínea, equilibrar os dois hemisférios do cérebro e induzir o relaxamento profundo.
A música New Age em particular pode também promover esse equilíbrio em seus ouvintes, uma vez que ela é totalmente dirigida e criada para atingir a pessoa em seus mais profundos recônditos espirituais e emocionais, gerando condições ambientais para estados alterados de consciência. Daí a grande responsabilidade de quem a faz.
O músico New Age não é simplesmente um músico com graduação em música. Isto só não basta. É fundamental que ele tenha, antes de qualquer tentativa de composição nessa área, um profundo conhecimento da anatomia energética do homem, bem como experiências do complexo espiritual que somos. Caso contrário, não será possível atingir o objetivo maior que é levar ao outro a experiência do silêncio e do vazio interior. É muito importante que o músico New Age tenha tido vivências na meditação com mestres qualificados, para que ele possa criar música com responsabilidade quase terapêutica, uma vez que seu trabalho será sem dúvida usado por outras pessoas para uma infinidade de outras experiências psicológicas.
Podemos citar alguns exemplos de músicos New Age, como a harpista Therese Schroeder-Sheker, que faz um trabalho inédito no mundo com pessoas em estado terminal. Ela é chamada para tocar nos momentos finais do indivíduo, a fim de que, com a sua música extraída de sonoros arpejos de harpa, venha facilitar o desprendimento e o desligamento espiritual do corpo dessa pessoa. Aqui, além do conhecimento profundo de música, a harpista conhece também todo o mecanismo energético do momento da morte, podendo com isso facilitar esse instante para o indivíduo. Outro caso é o do também harpista Erik Berglund, que já tocou em vários locais para eliminar energias negativas do ambiente através da música.
O músico Joel Andrews descreve no seu livro A Harp Full of Stars uma experiência altamente espiritual e humanista. Segundo Andrews, a música que cria, interpretada pelos simbolismos, passados a ele por suas fontes espirituais, serve para fornecer padrões vibratórios que conduzem à cura. As sessões musicais de cura, que Andrews chama de Attunement Sessions, são gravadas e seus pacientes podem assim ouvi-las continuamente, como forma de terapia musical. Ele garante já ter produzido mais de 2000 fitas. Em alguma dessas sessões, que pudemos acompanhar, percebemos que Joel Andrews demonstra encarar seu trabalho com muita seriedade, apesar de lidar com idéias até extraordinárias sobre música, espiritualidade e as potencialidades terapêuticas de ambas.
O tecladista Richard Burmer já produziu uma dezena de fitas de relaxamento tocando ao fundo, enquanto renomados psicoterapeutas vão conduzindo um trabalho de indução de relaxamento ou de regressão a vidas passadas do cliente. Não podemos deixar de citar também o trabalho gigantesco do psicoterapeuta Steven Halpern, que criou o Som-Saúde.
Música - fator de elevação interior e de concentração mental
Estes são alguns exemplos, entre muitos, da complexidade do trabalho musical dentro da New Age. Pode-se entender isso como uma evolução dentro da arte, em que o músico deixa de ser um mero produtor de lazer e passa à condição de um terapeuta musical, criando uma visão muito mais humanitária e auxiliadora dentro da arte. Quanto aos efeitos da música New Age, pode-se dizer que sempre serão de uma forma ou de outra benéficos para todo o ser vivo. Mesmo que uma pessoa não se ligue atenciosamente aos sons, escutando apenas casualmente, a música pode contribuir para o seu bem-estar e a harmonização mental e física.
Talvez seja por isso que encontramos em todos os rituais religiosos, xamânicos, budistas, taoístas, hinduístas, católicos etc., a presença da música como fator de elevação interior e de concentração mental. A música New Age representa uma maneira mais moderna de reproduzir os efeitos que as formas musicais clássicas e antigas, e até as primitivas, procuravam produzir em seus ouvintes. Utilizando-se hoje de novos recursos, como instrumentos eletrônicos com teclados que produzem toda variedade de sons sintetizados, ou de samplers, capazes de reproduzir o som original de um instrumento acústico e até de efeitos de gravação que conseguem levar o ouvinte à sensação de estar em lugares imaginários, a nova música do terceiro milênio pode contribuir muito mais além da busca de estados de elevação e iluminação. É possível também utilizá-la em nosso cotidiano com grande sucesso, como já vem sendo feito em países do Primeiro Mundo para prevenção e combate ao estresse, relaxamento em psicoterapia, auxiliar no tratamento de crises e depressões emocionais e até no combate ao chamado estresse hospitalar, muito comum entre pacientes que precisam permanecer por longo tempo internados.
Deve-se procurar ouvir música New Age porque ela pode participar do processo de harmonização e crescimento pessoal de seus ouvintes de forma efetiva e sensível. Por isso, essa música deve ser escutada com ouvidos terapêuticos. A pessoa deve estar consciente de que, no momento da audição, deverá receber essencialmente algo de bom para si e de que aquela música poderá estar alterando de forma positiva seus padrões vibratórios. Isso não significa que toda vez que ouvirmos música New Age tenhamos de sentar em alguma postura mística ou mesmo transformar nossa casa em algum tipo de consultório terapêutico. Podemos executar perfeitamente nossas atividades cotidianas e ouvir música New Age. Ela vai estar atuando em nosso sistema nervoso e em nossos padrões vibratórios e de pensamento de maneira positiva, mesmo que não façamos nenhum esforço para absorver a música. O ouvinte deve procurar o tipo de música New Age que mais lhe agrade. O critério dessa escolha deve ser simplesmente a sensibilidade de cada um.
A música New Age e suas divisões
Pode-se dividir a música New Age em vários ramos, sem deixar de lado o seu objetivo principal, que é o de levar o ouvinte a uma melhor qualidade de vida e criar um ambiente de paz e calma. Pode-se classificar alguns tópicos, dentre muitas variantes: Música Visionária - instrumentação e arranjo sinfônico: busca estimular a imaginação do ouvinte. Space Music - utiliza sons espaciais e efeitos que transmitem ao ouvinte a sensação de estar em ambientes futuristas calmos e de muita paz. Healing Music - arranjos supersuaves, muito utilizada para sessões de massoterapia, (massagem) de energização e relaxamento. Música Metafísica - usada em sessões de cura. Natural Music - arranjos feitos com sons de natureza ao fundo, usada no combate à depressão e ao estresse. World Music - música com ritmo, serve para estimular a energia.
A música do Terceiro Milênio
New Age, Era de Aquário e Terceiro Milênio são todos termos bastante próximos, atualmente, para muitas pessoas. Não queremos aqui negar, nem confirmar, a legitimidade de se imaginar uma transformação planetária. Achamos, porém, que existe a necessidade óbvia e flagrante de uma transformação do homem, que o leve a apoiar de forma mais consciente sua vida, seu bem-estar e a prosperidade do planeta como um todo, sob o risco de tornar sua existência e seu desenvolvimento simplesmente algo impossível de ser levado adiante. É necessário também que fique claro que grande parte do pensamento New Age sugere que nenhuma mudança será duradoura e bem-sucedida se não pressupor o homem como agente responsável e promotor de seu próprio equilíbrio interior e, por conseguinte, de harmonia entre os seres da Terra.
Calcados em nossa experiência pessoal de mais de 20 anos de estudos metafísicos, experimentos e contato direto com a música e os músicos New Age de todo o mundo, podemos afirmar que ela muito contribuiu em nossa vida, tanto nos momentos mais difíceis como nos de muita alegria. A música do Terceiro Milênio esteve, está e continuará sempre muito próxima de nós, auxiliando-nos em todos os trabalhos de meditação ou de experiências transcendentais.
A New Age no Brasil
No Brasil podemos dizer que a música New Age foi introduzida por volta de 1985. Portanto, ela aqui ainda está engatinhando. Apesar disso, em apenas dez anos já conta com um grande número de audiófilos do estilo e atualmente é amplamente utilizada nos institutos e consultórios terapêuticos, em academias de tai-chi chuan, aulas de yoga etc. Em 1994 foi fundada em São Paulo a primeira gravadora totalmente dedicada à música New Age, sob o selo Alquimusic. Hoje, seus lançamentos em CDs e K7, feitos exclusivamente com artistas brasileiros, são amplamente aceitos em todo o território nacional. De Norte a Sul, a New Age do Brasil vem sendo respeitada e ouvida por todos. Mas, como tudo que é novo, ainda há certa dificuldade entre os músicos que buscam trabalhar dentro do estilo em entender os objetivos verdadeiramente propostos pela música New Age. Acreditamos que aqueles que tomarem consciência da necessidade de um trabalho interior, de um preparo prévio, antes de se iniciar por esse mar desconhecido, sem dúvida alguma darão muitos e bons frutos na New Age.